Novos Caminhos auxilia jovens a conquistar uma vida adulta digna e independente



* Notícia publicada originalmente no portal institucional do Poder Judiciário de Santa Catarina.

Para debater a autonomia dos jovens em medida protetiva de acolhimento na decisão da trajetória profissional, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) reuniu nesta terça-feira (22) magistrados e profissionais da psicologia e da administração no seminário que celebrou os 10 anos do programa Novos Caminhos. O objetivo da iniciativa orientada pela Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude (CEIJ) é proporcionar às crianças e adolescentes abrigados conhecimentos para uma vida adulta digna e independente, por meio da capacitação profissional e do encaminhamento ao mercado de trabalho.

O magistrado Raphael Mendes Barbosa, lotado na comarca de Criciúma, coordenou a mesa com o seguinte tema: “Autonomia para decidir a trajetória profissional”. Para o juiz do direito, o que faz a diferença do programa é o trabalho multissetorial. “O que desejamos com o programa Novos Caminhos é oferecer as oportunidades de vida que muitos de nós tivemos, para que esses jovens tenham um novo caminho. Desejo que todos deixem as vaidades de lado e trabalhem de forma multissetorial para o crescimento e fortalecimento do programa”, anotou o magistrado.

Entusiasta do Novos Caminhos, a juíza da Vara da Família, Infância e Juventude da comarca de Jaraguá do Sul, Daniela Fernandes Dias Morelli, destacou que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma legislação de excelência que exige de todos o poder de interpretar. Por conta disso, a magistrada revelou que um jovem teve o tempo de acolhimento estendido para protegê-lo.

“No acolhimento realizamos um trabalho de reconstrução. Procuramos reconstruir a autoestima e a autoconfiança para interromper um ciclo de vulnerabilidade. Trabalhamos com a ideia de que o futuro desses jovens independe do passado, por meio de ferramentas psicoterapêuticas. A proximidade da vida adulta gera ansiedade e insegurança e, por conta disso, o programa estimula as potencialidades de cada jovem e oferece a capacidade para que eles tomem as próprias decisões, como sujeitos de direitos. Para isso é necessário ter uma rede articulada, que comunique qualquer tipo de dificuldade. Porque lugar de criança é na escola, na família e no orçamento público, porque precisamos solucionar qualquer dificuldade no menor tempo possível. Porque um mês na vida de quem está acolhido é muito tempo”, pontuou a magistrada.

Durante uma década, o programa Novos Caminhos encaminhou ao mercado de trabalho 1.156 jovens. Foram vagas de estágio, de aprendizagem e de emprego celetista. Foram 13.253 matrículas em cursos, oficinas e atividades ofertadas pelos parceiros institucionais. Ao todo, são 717 empresas parceiras no Estado, que ofertam oportunidades a crianças e adolescentes dos 221 abrigos.

Para o mestre em psicologia Gabriel Lopes Rosa Feigel, que é professor de graduação da Uniplac e atende o Novos Caminhos em Lages, o fator determinante é conseguir o engajamento e o comprometimento desses jovens para enfrentar as adversidades. Na opinião do psicólogo, para escolher uma profissão de forma autônoma, os jovens precisam de ajuda para ressignificar o passado e o presente. Isso porque o passado dificulta a visualização do futuro.

“Quando um jovem escolhe uma carreira, ele não escolhe apenas uma profissão, ele determina quem quer ser. Com quem ele quer se relacionar, onde vai trabalhar e residir. Também precisamos ter cuidado com as referências desses jovens. Com quem eles tiram suas dúvidas? Essas pessoas precisam de capacitação para a construção da percepção da realidade dessas crianças e adolescentes. A vida exige que eles tenham autonomia com 13, 14 anos, e por isso há necessidade que o Novos Caminhos ofereça o desenvolvimento pessoal, que passa pela capacitação e pelo afeto”, destacou o psicólogo.

O presidente do Conselho de Administração da Fundação Esag, mestre em administração Constantino Assis, enalteceu a parceria que financia o atendimento psicológico oferecido pelo Novos Caminhos. “Nossa participação tem foco no pagamento de psicólogos, psicopedagogos e transportes. Sem esse suporte, muitos jovens não conseguiriam seguir no programa. Em 2022, financiamos 1.494 consultas para 175 adolescentes. Até junho de 2023, foram 2.008 consultas e 192 jovens atendidos”, informou.

Na sequência, o coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), promotor de justiça Eder Cristiano Viana, presidiu a mesa com o seguinte tema: “A importância do comprometimento ético da rede de proteção com o futuro do adolescente”.

Ana Paula Fardin Soares, assistente social da Vara da Infância e Juventude da comarca de Jaraguá do Sul, disse que os jovens acolhidos precisam passar por uma transformação sedimentada no amor. “Precisamos de profissionais qualificados, vocacionados e éticos, que levem os jovens a descobrir novos caminhos não só por palavras, mas pelos exemplos. Eles precisam compreender as fragilidades, as dificuldades, e saber respeitar as etapas diante das quedas e dos tropeços. Educar não é tarefa fácil. Por isso o programa é formado por várias instituições, profissionais liberais e voluntários que sabem a importância da necessidade de mudança”, afirmou.

Já a assistente social da comarca de Itajaí, Francilene Laureano Moreira Krzisch, destacou a possibilidade de agregar novos parceiros. “Articulamos com empresários locais, principalmente em Balneário Camboriú, o que possibilitou a abertura de vagas. Destaque para a OAB, que facilitou o contato. Hoje, a credibilidade do programa é tão grande que somos procuradas pelos empresários para participarmos dos eventos”, ressaltou.

A interlocutora de responsabilidade social e referência do Novos Caminhos na região Sudeste pelo sistema Fiesc, Jussara Maria Moraes Castilhos, lembrou a importância do contato periódico com gestores e setores de recursos humanos das empresas. “O programa Novos Caminhos é uma ação de doação e de amor. A gente se emociona a cada sonho e a cada história. Eu tenho acolhidos que acompanho há oito anos, e ainda nos encontramos todos os anos. Isso não é um trabalho, mas doação de afeto. Eles querem afeto e, às vezes, precisamos falar como mãe. Temos um tempo muito curto para fazer algo com eles, e o nosso desafio é o da empregabilidade. Não podemos largar esses jovens nas empresas sem um acompanhamento. É necessário ter ‘anjos’ ao lado deles”, pontuou.

Por fim, a neuropsicopedagoga Lígia Urbini Eugênio, que é a interlocutora de responsabilidade social da Fiesc na região do Vale do Itajaí, destacou a necessidade de sensibilizar as empresas para a responsabilidade social. “Realizamos um trabalho de visita aos empresários, com apoio da magistrada da comarca e do coordenador dos abrigos, para sensibilizar as empresas e as indústrias para a responsabilidade social. Já tivemos muitos resultados positivos, com a contratação de dezenas de adolescentes. Às vezes, a gente precisa apenas ser a ponte para viabilizar a contratação de jovens acolhidos”, concluiu.

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